Talvez, e haverá sempre um talvez, alguém que nada significa pra você, viveria com você uma história.
A natureza é consciente, vamos nos preparar então para viver uma consciência plena com a criação que vem da imaginação.
Imagine seus pensamentos tomando forma e poder para dar vida a uma fantasia. Esqueça tudo, exceto o que será declarado pra sua alma, mas primeiro, vamos nos despir de nossos orgulhos, do nosso ego, das certezas, e experimentar a felicidade sem regras pra seguir, pois a felicidade só é vivida e sentida. Você não acha possível? Mas tente, tente imaginar...
Imagine um lugar entre montanhas, altas montanhas que se vestem de luz o ano todo. Imagine um vale encantado onde todas as estações pintam sua natureza com as cores do paraíso. Dê asas a sua imaginação e procure comigo as imagens, me ajude a montar um cenário. Vamos imaginar a vida em um lugar, onde seus moradores poucos contatos tem com o restante do mundo. Onde todos se conhecem e se cumprimentam.
O ar puro é uma coisa legal? Você gosta de verde? Em nosso cenário colocaremos ar puro e o verde em todas as direções que olhar. Vamos passear pelo lugar e ver as casas, os rodamoinhos, chaminés que exalam o cheiro gostoso de alguma coisa defumada. Veja as rosas de vento, olhe os cercados pintados de branco, onde pastam vacas leiteiras com tetas enormes.
Consegue ver aquela casa na entrada do vale? E aquela menina com um lenço florido na cabeça, você vê? Ela está colhendo flores pra sua mãe fazer uma coroa que usará no domingo, quando fará sua primeira comunhão. Seu nome é Ana, mas chame-a de Aninha, é assim que todos a conhecem.
Agora vamos pegar carona nesta brisa que passa e atravessar o vale, em direção daquela plantação carregada de flores branca. É uma plantação de café. Seu proprietário mora naquela casa que fica entre o pomar. Olhando daqui fica difícil visualizá-la por inteiro, para isto temos que nos aproximar, aproveite enquanto caminhamos para admirar as árvores frutíferas, tem um monte delas aqui, viu as macieiras que lindas? Depois que passamos por entre algumas delas, avistaremos a casa. Você acreditaria se eu lhe dissesse que tem quartos na casa que esperam por hóspedes até hoje? Pois pode acreditar. Quem sabe não seremos nós a ocupar um deles?
O jardim desta casa fica bem em frente, olha, tem um menino com uma enxada, você vê? Se alguém lhe perguntar porque está cavando, ele dirá que está arrancando minhocas para pescar com seu pai no domingo, depois da missa, quando ele fará sua primeira comunhão. O menino é conhecido por Caíto, diferente de Carlos seu verdadeiro nome não é mesmo?
Sabe o que está faltando? A gente conhecer a igreja!
A igreja não tem padre e está sempre de portas fechadas, mas se alguém quiser entrar, é só bater palmas que a vizinha mais próxima virá atender. Se for para uma visita, ela o acompanha e conta a história de como a igreja nasceu, você ouve tomando chá com bolachinhas de leite, feitas por ela mesma, se quiser ela dá a receita. Se for para fazer uma oração, ela respeitosamente se retira encostando a porta pra que você fique a vontade.
Todas as celebrações como batizados, casamentos, crisma e primeira comunhão, são realizadas no final do ano por causa da dificuldade de acesso ao vale. O padre vem de mula uma parte do trajeto, a outra tem que ser na caminhada, mas a recepção calorosa e a estadia hospitaleira em meio aos moradores do lugar compensam o sacrifício.
Como você pode ver, nosso cenário está montado, já conhecemos os personagens, só resta contar nossa história, que pode começar numa das cerimônias realizadas na igreja. São todas bonitas, mas a de primeira comunhão eu acho especial por causa da magia da adolescência onde tudo se transforma.
Na entrada da igreja duas filas se formam, uma de meninas e outra de meninos. Os meninos parecem mocinhos com seus trajes compostos por camisa branca de manga comprida, calça azul marinho e sapatos pretos. Há! Ia me esquecendo da gravatinha borboleta, preta, para combinar com os sapatos.
A fila das meninas parece de anjos, com seus vestidos brancos e longos, luvas brancas e uma coroa de flor na cabeça. É uma fila comportada, uma ou outra mais sapeca arrisca um olhar em direção aos meninos.
Num momento importante da cerimônia, um menino e uma menina se dirigem para o altar onde irão acender as suas velas.
Foi assim que tudo começou...
O amor que brotou entre eles no instante daquele olhar, teria a duração que só os eternos poderiam medir. Ele, um menino criança, com o coração ainda virgem do sentimento de amar. Ela, uma criança menina, flor em botão que experimenta o gosto doce da paixão. Um momento mágico, independente de tempo ou lugar, mas que existe, guardado num misterioso ponto do universo onde somente a pureza de corações tem acesso e somente a eles é permitido sentir. Um momento extremo, quando no jardim ao lado de suas existências anjos colhem flores e cantam odes de contentamento.
Tolice nossa, mortais comuns e adultos descrentes, divagar sobre o momento deste acontecimento, pois estamos falando de sentimentos que nasceram nos corações de duas crianças.
A olhos vistos, percebe-se a diferença, dê uma olhadinha nos pais, os filhos emagrecem, tornam-se tolos e eles acreditam que isto passa.
O tempo sim, este passa e se diverte com nossa ignorância. Os amantes encontram uma formula para nos enganar, eles não querem que ninguém se preocupe com eles, querem que o mundo os deixe em paz.
Querem demais, nós sempre faremos o possível para controlá-los, eles são tão jovens...
O que parece coisas de criança vai se tornando coisas de jovens, os amantes se tocam, mas ainda é frágil a consciência do sentimento, e por isso pensamos em aconselhar:_Esperem um pouco, vocês ainda não sabem o que querem, amadureçam um pouco mais e depois veremos. Os dois amantes não escutam, para eles tudo é perfeito, tudo vale, tudo é certo, estão surdos para preocupações, apenas vivem.
As famílias se juntam, tentam achar uma solução:_Eles tem que casar, esta história está indo longe demais.
Casaram e assinaram papéis, sossegaram a sociedade e com sua permissão já podiam viver juntos. Juntos plantam sementes e colhem os frutos da sobrevivência, constroem uma morada simples que chamam de castelo, sonham simples sonhos cercados de muitos filhos.
Filhos que não viriam, estavam condenados a viver sozinhos uma mesma história que escreveram juntos, unidos numa paixão sem fim.
No vira e desvira da ampulheta do tempo, o entardecer da vida de todos nós surpreende o casal junto ainda. Aparências retocadas pelo pintor da natureza deu-lhes as cores da velhice, mas não conseguiu apagar a chama do olhar que eles insistiram em manter acesa.
Histórias começam e terminam, outras histórias precisam ser contadas, todas elas terão um fim que muitas vezes preferimos não conhecer. Caíto e Aninha tiveram seu tempo, viveram sua história, decifraram os enigmas da paixão e aprenderam os segredos da felicidade. Conheciam a existência da morte como a existência dos frutos que fornecerá as sementes a partir do momento que não tiver mais vida. É preciso morrer para continuar a existir, em outra árvore talvez, mas sempre o mesmo fruto.
Nascer é bonito e festejamos o nascimento, mas renascer é esperança de eternidade para aqueles que amaram viver.
Um viu o outro caminhar para o fim, ajudou, deu forças, amparou e foi amparado.
Se você não quiser não entre no quarto, talvez não seja uma cena que você gostaria de assistir, mas posso ti garantir que a morte lhes emprestou feições serenas numa transição sem dor.
Pessoas do vale velaram o corpo e os plantou no jardim da casa simples, que eles chamavam de castelo.
Histórias nascem do nada e no nada se perdem, mas amores que brotam nas histórias permanecem num lugar onde tudo é eterno.
Histórias começam e terminam, outras histórias precisam ser contadas, vamos começar uma outra história juntos, você não acha possível? Mas tente, tente imaginar...
FIM
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