segunda-feira

OS ONÇAS PINTADAS

INTRODUÇÃO

Meu nome é Juan Lecaros, nasci e vivo até hoje num povoado localizado entre as cidades de Cobija e Riberalta, ao norte de La Paz, capital da Bolívia. Sou solteiro e minha profissão é pilotar pequenos aviões.
A história que vou narrar a vocês não poderia encontrar maior fidelidade em outra pessoa, já que fiz parte da mesma, e nela tive como atuação mudar o destino de um povo, um povo que já me esperava...

Os Onças Pintadas

Incrustada em meio 'a vastidão da floresta amazônica, existe um lugar que os nativos deram o nome de terra das onças pintadas, por causa da ocorrência de grande quantidade destes animais no lugar. Por capricho da natureza, uma grande clareira se formou no lugar e se tornou à morada de um povo que se estabelecera ali em tempos passados.
Altos, pele morena e cabelos lisos, características comuns entre os nativos da região, porém, por trajarem uma vestimenta feita com peles de onças, e possuírem os olhos claros como estes felinos, eles se tornaram conhecidos como os onças pintadas.
Era um povo respeitado e temido pelas tribos vizinhas. Seus guerreiros eram jovens valentes e hábeis lutadores, que defendiam com bravura suas terras em guerras contra tribos nômades que cobiçavam aquele lugar de caça farta e terra fértil para o plantio.
Nas histórias contadas pelos mais velhos em torno da grande fogueira, nenhuma narrativa documenta a invasão de outras terras, ou um ataque a outras tribos. A tribo nada cobiçava do que pertencia às outras, era alto suficiente na agricultura e na caça.
As tradições eram mantidas com rigor. A religião, a formação dos guerreiros, e as festas de agradecimento ao espírito pai, eram acontecimentos tão importantes que contavam com a participação de todos os membros da tribo.
Eram adoradores da lua, que diziam ser o espírito pai. Acreditavam que o espírito pai os protegia durante o sono, quando não estavam vigilantes e portanto suscetíveis aos perigos das sombras. Suas crenças diziam que o espírito pai recebia os espíritos de seus mortos e os distribuía no céu, em forma de estrelas. O céu para eles era uma grande aldeia de espíritos indígenas.
As cerimônias fúnebres eram realizadas a noite, e somente a família do morto e o feiticeiro da tribo podiam participar. O corpo era queimado pelos familiares, que clamavam ao espírito pai um acolhimento honroso para aquele espírito que subia para a grande aldeia em forma de fumaça.
O cultivo, a preparação da comida, o trabalho com o couro e as folhas de taboa, eram trabalho das mulheres jovens. Na velhice elas cuidavam da educação das crianças e ensinavam as jovens nos trabalhos artesanais.
Os jovens treinavam as lutas e o manuseio do arco e da lança, e eram responsáveis pela caça e defesa da aldeia, quando velhos, entravam para o conselho dos sábios, que tomava as decisões importantes e cuidava da paz dentro da aldeia.
As refeições eram comunitárias, toda a aldeia sentava em torno da grande fogueira onde se preparava a caça, o bejú, e a sopa de inhame ou cará, com ervas aromáticas abundantes na região.
A fartura de comida tornou a tribo um povo saudável.

O guerreiro

Grande chefe era o poder máximo na tribo, ditava as ordens e impunha as regras estabelecidas pelo conselho de sábios, sua preparação era construída ao longo do tempo, iniciando-se na infância com o aprendizado das artes da guerra, e das filosofias adquiridas junto ao conselho de sábios. Era um poder patriarcal...
Os guerreiros fortaleciam os corpos com exercícios físicos e lutas corporais, treinavam o arco e flecha, o manejo de lanças, e participavam de jogos que desenvolviam força e agilidade. Na guerra não faziam prisioneiros. Na batalha em defesa de suas terras a cabeça não pensava, a força e agilidade eram usadas para sucessivos golpes que sufocava o inimigo, deixando-os com poucas chances de revide.
Em sua formação o guerreiro era forjado na aventura da procura, do encontro, e do abate de uma onça pintada. O jovem índio que deixava a aldeia em busca de seu ideal jamais voltava sem cumprir sua missão, seria motivo de vergonha para a tribo. Alguns jamais retornaram. Quando voltava para a aldeia carregando sua caça, o caçador dirigia-se para a tenda de grande chefe e apresentava seu fardo. Iniciava-se então a cerimônia de reconhecimento como guerreiro por toda a tribo, e o caçador, agora guerreiro, passava a ostentar o couro do animal como vestimenta.

Olhos de coruja e Espírito que fala

O nome de cada membro da tribo unia as características do nativo com os elementos da natureza, mas a elite era denominada de acordo com a sua função dentro da sociedade. No nascimento, olhos de coruja foi o nome escolhido por grande chefe para seu filho e futuro sucessor, que carregaria este nome até suceder a seu pai. O menino tinha olhos grandes e observador, como a ave que lhe emprestara o nome, era curioso, aprendia com facilidade, e trocava as horas em que poderia estar se divertindo com outros meninos para conversar e aprender com os velhos, membros do conselho de sábios.
Olhos de coruja alimentava o sonho de aprender os segredos da feitiçaria e das curas realizadas por espírito que fala, mas isto era proibido.
Espírito que fala era o feiticeiro e curandeiro da tribo, era o mediador entre os índios e o espírito pai, somente ele falava com os espíritos, e só ele tinha o poder de curar os doentes da tribo com feitiçarias e remédios manipulados com plantas da floresta. No quarto de lua anterior espírito que fala recebeu uma mensagem do espírito pai, através de um sonho, e agora aguardava o segundo, onde seriam confirmadas suas interpretações, e só então transmitiria para grande chefe.
O sonho esperado não tardou.

O segundo sonho.

Espírito que fala acordou numa madrugada chuvosa, a ansiedade escravizou seu sono, e agora era refém de sua mente pois tivera o segundo sonho!
O respeito pela privacidade, a responsabilidade de transmitir o que para ele mudaria o destino de seu povo, e a necessidade de pensar e repensar a história da tribo, foram dilemas que refrearam sua decisão de correr para a tenda de grande chefe e anunciar a mensagem recebida pela segunda vez. As horas embaladas em dúvidas e ansiedades se tornaram longas, tanto quanto uma caçada no inverno, quando os animais se refugiam para procriarem. Quando o dia amanheceu, as nuvens agora vazias desapareceram com a escuridão da noite. Um enorme sol se projetou por sobre a imensidão verde da floresta anunciando um dia especial, um dia de novidades.
Espírito que fala caminhou em direção 'a tenda de grande chefe, cumprimentou olhos de coruja que alimentava um sagüi com bananas e solicitou ao menino que anunciasse sua presença para seu pai. Grande chefe apareceu acompanhado de sua mulher, convidou-o a entrar na tenda e o interrogou: _Tivestes o segundo sonho?
O velho curandeiro confirmou com um movimento de cabeça, e depois de aceitar a tapioca embalada em folha de inhame, começou a narrar o que agora era a confirmação da primeira mensagem. Quando terminou sua narrativa, percebeu que um sorriso brincava nos lábios de grande chefe que disse:
_ Precisamos convocar o conselho!
O feiticeiro concordou e ambos se dirigiram para a tenda de barulho de trovão, responsável pelas convocações de reuniões da tribo. A maneira como fora batido o tambor, deu a entender a todos da aldeia que somente o conselho dos sábios deveriam comparecer na grande tenda. Quando todos estavam presentes, grande chefe pediu para espírito que fala comunicar a mensagem dos espíritos da grande aldeia, contida no segundo sonho, e o velho feiticeiro narrou o que sonhara, e pela segunda vez, percebeu a importância que tinha para a tribo o que acabara de dizer, os velhos se entreolhavam e sorriam.
O tambor de barulho de trovão mandou para os ares uma nova mensagem naquele dia, agora, toda a tribo estava sendo convocada para uma reunião.
Grande chefe olhou para seu povo em torno da grande fogueira e sentiu-se feliz por fazer parte daquele momento tão importante, onde homens, mulheres e crianças aguardavam em silencio a revelação de uma nova era para os onças pintadas. Depois de autorizar o velho curandeiro a fazer o seu relato, grande chefe ocupou seu lugar junto ao conselho de sábios.
Espírito que fala se concentrou em suas lembranças, e falou sobre a mensagem trazida por seu sonho. No sonho ele avistava um grande pássaro enviado pelo espírito pai, que descia da grande aldeia e pousava entre os onças pintadas. Aos poucos, o grande pássaro transportava os membros da tribo para a grande aldeia, onde eles encontrariam todos os que lá foram morar, e assim, viveriam para sempre juntos como uma grande nação.
Quando concluiu, o velho feiticeiro sentiu a felicidade de um espírito em paz, a mensagem transmitida por ele transformou os dias seguintes da aldeia numa grande festa...

O grande pássaro

A viagem seria perigosa, não bastasse fugir do controle de tráfego aéreo brasileiro, o tempo estava péssimo, com muita umidade no ar, sinais claros de que chovia muito na área de rota normal. O destino da viagem era Bauru, uma cidade do interior de São Paulo.
Não era minha primeira viagem até este lugar, e por isto conhecia bem a rota normal. Atravessaria a fronteira mais ou menos no centro da extensão do rio Guaporé, voando ao sul da floresta amazônica, depois mudaria o curso para o sentido norte-sul do território brasileiro, voando próximo a fronteira, atravessaria Mato Grosso do Norte, Mato Grosso do Sul, chegando até Campo Mourão no Paraná, daí, para evitar voar sobre São Paulo mudaria o curso num ângulo de noventa graus, fazendo um paralelo com o rio Paraíba e, chegando finalmente ao destino da viagem.

Tentei conversar com meu contratador, falei do temor que tinha em fazer esta viagem, a fronteira estava muito vigiada, e se acaso eu tivesse que mudar a rota o mau tempo seria um complicador, sem visibilidade eu não teria a orientação dos rios, das cidades, e até mesmo das montanhas. O vôo teria que ser baixo para evitar sinais que seriam captados por radares, e voando baixo, os instrumentos da aeronave pouco ajudaria. Um piloto precisa ter muita experiência de vôo nesta região para poder usar os pontos de referência.
O contratador entendeu meus temores e concordou com os riscos, porém disse que o cliente era muito exigente e pedia urgência na entrega da mercadoria. Sem outra alternativa dirigi-me para o barracão onde meu co-piloto, um paraguaio beberrão cochilava, e anunciei a viagem. Juntos taxiamos o pequeno e robusto bimotor deixando-o no ponto de levantar vôo. A viagem estava marcada para as 10 horas da noite, se tudo terminasse bem, o cliente estaria recebendo a mercadoria no começo da madrugada.
No horário combinado, eu e o co-piloto Gonzáles ocupávamos nossos lugares aguardando a autorização de vôo que viria pelo rádio. Fiz uma oração em silêncio pedindo proteção a Deus, e para aliviar a tensão brinquei com Gonzáles:
_ Amigão, agora é só nós dois! Ele sorriu e disse que éramos três, mostrando uma garrafa de whisky paraguaio.
A autorização veio acompanhada de um desejo de "boa viagem". Liguei os motores para o aquecimento, e a seguir coloquei o avião em movimento. Após a decolagem recolhi o trem de pouso, e enquanto ganhávamos altura checava os instrumentos. Gonzáles assoviava uma canção guarani...
Sobrevoamos por sobre o rio e entramos em território brasileiro, tudo corria bem, mas antes de nos aproximarmos do ponto de mudança da rota, a visibilidade tornou-se nula, e fomos obrigados a ganhar altura para fugir da zona de neblina, e com isso, corremos o risco de sermos detectados pelos radares brasileiros.
Meu co-piloto estava em silêncio, talvez perdido em alguma aventura criada por eflúvios etílicos emanados pela garrafa que agora descansava ao lado de seus pés. Por alguns instantes comecei a divagar sobre a necessidade de ter um trabalho dentro da legalidade, pilotar um avião comercial, ou até mesmo de passageiro, ajudado por instrumentos de vôo e torre de controle, mas infelizmente eu estava na contramão de meus sonhos, tinha um ótimo salário, coisa que eu não conseguiria num trabalho honesto, mas não tinha nenhuma segurança.
Estávamos ainda envolvidos em nossos pensamentos quando ouvimos uma mensagem no rádio dita em português:
_ Senhores tripulantes da aeronave prefixo---, vocês estão sobrevoando o território brasileiro em condições desfavoráveis de tempo, por favor, voem em direção ao aeroporto de Cuiabá, localizado 'a leste de sua rota.
Pronto! Fomos descobertos, só restava nos entregar e perder a carga para depois apodrecer numa prisão, ou tentar uma fuga, e esta somente seria possível se rumássemos para o norte, em direção a zona morta, área central da floresta, então estaríamos isolados do mundo, apenas com um rádio que poderia ou não funcionar. Olhei para Gonzáles esperando por uma solução, depois de beber um grande gole e enxugar a boca com o dorso da mão ele falou:
_ Se entregar nunca! Se formos presos nunca mais seremos libertados, e se um dia conseguirmos nossa liberdade, nosso contratador certamente nos matará. Estava decidido, rumaríamos para o norte, do rádio veio uma ameaça:
_ Tripulantes da aeronave prefixo---, mudem a rota para a determinada agora, isto é uma ordem!
Manobrei em direção contrária a de nosso destino, voando em direção a zona morta, e sabedor de que seríamos seguidos baixei para a zona de neblina, pois ela ajudaria na fuga. O tempo perdeu o significado pra nós, a única coisa que contava naquele momento era fugir, o mais longe possível, enquanto houvesse combustível no tanque. Continuamos a fuga em direção ao norte, o rádio permanecia mudo, talvez nossos perseguidores tenham desistido. Eu não sabia em que lugar da floresta estávamos, mas sabia que o combustível não seria suficiente para uma retomada de nosso destino, novamente recorri a Gonzáles. Pensativo meu amigo pareceu analisar nossa situação, bebeu mais um gole da garrafa que agora estava pela metade e disse:
_ Vamos tentar usar o rádio e explicar a situação para o contratador, mesmo que nossa comunicação seja interceptada, ele ao menos saberá o que está acontecendo. Concordei com ele, e na primeira tentativa consegui o retorno, mas não consegui falar o suficiente para solicitar socorro, do outro lado, uma voz que denotava furor apenas berrou:
__Vocês estão loucos? Eu não conheço vocês! Se estão com problemas, fodam-se!. Desliguei o rádio e perguntei a meu amigo se ele tinha alguma idéia do que deveríamos fazer.
_ Perdidos por um, perdidos por dez! Filosofou o paraguaio, _ vamos em frente, talvez o combustível dê para chegarmos em Manaus, naquela região existem muitos campos de pousos clandestinos de traficantes brasileiros e colombianos.
Já era de madrugada quando, para aumentar ainda mais nossos problemas uma tempestade desabou sobre nós, precisávamos com urgência de um campo de pouso, ou seria nosso fim. No escuro pensei ter visto uma clareira, o que foi confirmado por meu co-piloto, então mergulhei o avião , Gonzáles cruzou os dedos, as rodas tocaram o solo e para nosso alívio o terreno era firme e regular.
A velocidade ainda era alta quando passamos por um aclive, e ao descê-lo, avistamos algo como uma miragem surgida do nada, uma aldeia de índios. Sem tempo para raciocinar joguei o avião para o lado esquerdo da pista improvisada, indo de encontro 'as arvores.

Enviados do Espírito Pai

Dois sons, meu coração batendo e o zumbido de insetos. Um calor úmido sufocava minha garganta, mas eu não sentia dores, aliás, eu não me sentia na posse de um corpo para poder senti-las. Minha mente lutava para revelar uma realidade escondida entre a razão e a ilusão. Meus olhos procurando por luz avistou o espectro confuso do que parecia ser um rosto, com olhos grandes, que se tornaram maiores ao me verem acordado, olhos de menino, que rapidamente correu para longe de minha visão.
As lembranças retornavam numa espécie de mosaico, onde as ligações entre os acontecimentos passados e atuais se transformavam numa procura pelo entendimento. Ouvi sons , o menino chamou por alguém, e percebendo que entrariam onde eu estava fechei os olhos para evitar a claridade, mas senti a presença deles e ouvi que falavam, baixo, numa linguagem que eu nada entendia. Aos poucos fui abrindo meus olhos tentando vencer a luz, alguém chamou por meu nome:
_ Juan, hei amigão, você está vivo, venceu mais uma! Demorei em acreditar que era meu amigo Gonzáles, um raio de esperança invadiu meu cérebro, ele estava vivo, então tudo era possível! Gonzáles falou do acidente, o avião bateu em uma árvore e ele sofrera ferimentos leves e muitos arranhões, mas eu levei a pior, quebrei várias costelas e a perna esquerda, na altura da coxa.
Com o passar dos dias, e graças as beberagem que me davam para tomar, meu corpo começou a reagir. Eu sentia muito sono, meu coração ás vezes disparava e meu corpo suava em bicas, então começavam os pesadelos, mesmo acordado eu tinha pesadelos.
O avião sofreu avarias na asa e em um dos motores, parte dos instrumentos estavam danificados, o rádio não funcionava, mas Gonzáles acreditava que poderia consertá-lo.
Meu amigo disse que se comunicava com os nativos através de sinais e desenhos que eles próprios começaram a traçar no chão.
Um mês contado por quatro luas se passaram até eu conseguir sair da tenda e caminhar sem ajuda, porém mancava da perna fraturada.
O menino que foi minha primeira visão ao acordar da morte se chamava olhos de coruja, e era filho do que parecia ser o cacique da tribo. Não se desgrudava de mim, achei isto bom, tinha companhia o tempo todo e aprendia com ele muita coisa sobre a tribo, era muito inteligente, eu sentia prazer em me comunicar com ele.
Não conseguimos consertar o rádio e Gonzáles começou a mostrar impaciência com nossa situação, sem comunicação, sem seu whisky, e perdidos no meio da floresta.
Certa manhã quando eu saia para caçar com olhos de coruja, a tribo foi surpreendida por visitantes que trouxeram presentes e foram recebidos na grande tenda. Quando deixaram a aldeia, o tambor de barulho de trovão bateu, convocando todos os membros da tribo para uma reunião . Olhos de coruja me puxou pela mão e fomos sentar em torno da grande fogueira, para ouvir o que seu pai tinha para dizer a seu povo. Gonzáles se juntou a nós.
Sempre ao lado do feiticeiro, o chefe da tribo falava apontando o céu, o avião, e algo relacionado a meu co-piloto e eu, pois apontara em direção a nós. Quando a reunião terminou, o silencio da retirada demonstrava descontentamentos entre os nativos, e o motivo era para nós um grande mistério. Olhos de coruja nos levou para fora da grande tenda, e a seguir nos dirigimos floresta adentro, até um local em que o menino achou seguro para relatar o que ouvira na reunião.
Depois de se abaixar e afastar galhos e folhas, o menino começou a desenhar os últimos acontecimentos. Desenhou índios que não eram da tribo, deduzimos que eram as visitas que a tribo tivera esta manhã. Quando olhos de coruja percebia que entendíamos o que ele nos comunicava, apagava o desenho para fazer um novo, sempre ligado ao anterior, como se estivesse montando uma história. No final, depois de estarmos ali por um longo espaço de tempo, tínhamos uma conclusão formada sobre os acontecimentos daquele dia. Os índios visitantes pertenciam a dois povos visinhos, que sabedores da nossa presença entre os onças pintadas, acharam por bem alertar a tribo amiga sobre os perigos existentes com nossa hospedagem. Segundo eles, homens brancos portando armas de fogo estiveram em suas aldeias, eram espíritos maus, que abusaram da hospitalidade intimidando-os com as armas, e quando se foram, deixaram doenças que seus curandeiros desconheciam.
Na reunião com seu povo, grande chefe falou da confiança que tinha em nós, falou da crença nos sonhos de espírito que fala, mas mostrou-se preocupado com a demora dos acontecimentos.
Voltamos para a aldeia e olhos de coruja deixou-me a sós com Gonzáles. Depois de um longo silêncio onde tentávamos digerir nossa realidade, Gonzáles falou:
_ Temos que sair daqui ! Nada falei e ele continuou:
_ Sei que você não pode fazer uma longa caminhada por causa de sua perna, mas eu deveria tentar, os índios visitantes falaram de homens brancos que vieram e se foram, isto quer dizer que eu devo seguir a trilha ou a direção que eles tomaram depois que deixaram a aldeia deles. Eu não tinha muito o que falar, nossa situação era complicada, e o medo de piorar as coisas me deixava mudo, mas a decisão já estava tomada. Chamamos nosso amiguinho e pedimos para ele nos fazer companhia até a presença de seu pai.
Tendo olhos de coruja como nosso interlocutor, explicamos a necessidade de Gonzáles ter que deixar a aldeia para buscar ajuda, do contrário, o grande pássaro jamais levantaria vôo. Grande chefe concordou, depois de ficar sabendo que eu ficaria na aldeia.
Na manhã seguinte meu amigo partia, levava alimentos que daria para atravessar o Saara, cheguei a brincar com ele por causa disto, mas meu coração estava aflito, ficaria só entre aqueles nativos e atormentado pela incerteza do meu futuro. Abracei meu amigo e ele se foi.

Questão vital

Com exceção de olhos de coruja, os membros da tribo me tratavam com frieza e desconfiança, por isto me apeguei 'a companhia do menino como um náufrago se agarra em sua bóia salvadora. Passávamos o tempo todo junto, com ele me ensinando palavras de sua língua e eu ensinando espanhol pra ele. Não me envergonho de dizer que ele aprendeu as lições melhor do que eu, por isto optamos por falar em espanhol em nossas conversas.
A aproximação resultou numa verdadeira amizade, e os instintos paternos começaram a se revelar dentro de mim, ele estava se tornando pra mim o filho que eu não tinha, meu coração o estava adotando.
Quatro luas se passaram e nenhum sinal de Gonzáles, perdi as esperanças, caso ele tenha conseguido chegar até a Bolívia, já teria o tempo suficiente para dar sinal de vida.
As reuniões da tribo começaram a ser freqüentes e sem minha participação. Olhos de coruja tentava me preservar de noticias ruins, e mesmo quando eu indagava sobre os motivos de tais reuniões, dizia que eram coisas sem importância. Numa tarde, quando acontecia uma destas reuniões, eu fazia algumas averiguações no avião apenas para passar o tempo quando meu amiguinho chegou correndo, chamando por mim:
_ Yuan, Yuam (ele não conseguia dizer Juan), precisamos falar. Estava nervoso e falava depressa, pedi que se acalmasse, pois do contrário não entenderia nada, mas quando consegui entender um frio correu pela minha espinha. Na reunião falou-se de um novo sonho de espírito que fala, onde a mensagem dizia que eu deveria ser mandado de volta para a grande aldeia e ser substituído por um outro enviado, que conduziria a tribo para seu destino final. Ficou decidido que eu seria queimado, pois os onças pintadas pretendiam me devolver para o espírito pai em forma de fumaça. Olhos de coruja me aconselhava a fugir, mas fugir não estava em meus planos, ainda mancava, e teria que enfrentar uma floresta com todos os perigos possíveis em um mundo selvagem.
E tudo por causa do sonho de um maluco, a situação era péssima, ficar e morrer, ou fugir só para adiar o inevitável. Não, fugir não, mas morrer assim de graça muito menos, tinha que haver uma saída, era minha vida em troca de uma viagem, uma viagem..., uma troca. Uma vertigem provocada pelo clarão de luz no fim do túnel, e a certeza de ter encontrado a saída, eles queriam uma viagem, eu lhes daria uma viagem, o avião estava carregado delas.
Era preciso fazer a coisa bem feita, eu tinha o remédio que me livraria da morte, mas seu uso tinha que ser controlado, dosado, como qualquer droga receitada num consultório médico. Olhei para olhos de coruja e vi naquele menino de grandes olhos somente a preocupação em ver salva a minha pele, pedi a ele que me acompanhasse até a tenda de grande chefe, e também chamasse por espírito que fala.
Diante dos dois anciões ainda pensei na possibilidade de recuar, mas a sombra da morte me rondando afastou qualquer possibilidade, e eu me apeguei a meu plano salvador. Apontei em direção ao avião e, tendo olhos de coruja como interprete, disse aos velhos que eu lhes daria muitas viagens, viagens para o espírito, os dois se entreolharam e demonstraram não estar entendendo o que eu dizia, convidei-os a me seguir até o avião, e eles o fizeram em silêncio, mostravam-se desconfiados. Apanhei um pacote que deveria ter uns dois quilos de cocaína e chamei-os de volta 'a tenda, achei melhor fazer a demonstração em lugar seguro. Espalhei um pouco de pó dentro de uma folha de mamona, e usando o talo como canudo aspirei uma parte para dentro do nariz, evitei exageros, aquilo era só uma demonstração. A seguir entreguei os utensílios para grande chefe esperando que ele imitasse meu ato, ele o fez, depois foi a vez do velho curandeiro , e quando entregava para olhos de coruja eu interferi._Não, o menino não, isto é coisa só para homens! Eu queria preservar meu amigo.
Minutos de expectativas e a seguir uma eufórica alegria tomou conta dos dois, falavam muito, se abraçavam, e dançavam uma musica ouvida só por eles. Olhos de coruja demonstrava espanto e admiração diante daquela cena grotesca, mas sorriu para mim, ele sabia que de alguma maneira mágica eu me safara da morte. Tive que agüentar algumas cenas de afeto por parte dos velhos, como abraços e até uma tentativa de me fazer dançar com eles, naquele momento, a impressão que tive foi de que doravante eu teria tanto poder na tribo quanto eles. O dia em que eu poderia ter virado cinzas tornou-se um dia de glórias para mim, e pela primeira vez eu me senti bem estando no convívio com aquela gente. Quanto a meu amiguinho, além de sua amizade eu agora tinha uma verdadeira demonstração de admiração e respeito. Eu me sentia feliz com o orgulho que ele tinha quando caminhava a meu lado. Ele estava sentindo o gozo que olhares admirados causam.
Com a introdução das "viagens" na aldeia, achei melhor convencer grande chefe sobre a necessidade de estabelecer regras para o consumo da droga, afinal, a fonte era imensa mas não era inesgotável. Ficou estabelecido, e isto segundo meu pedido, que somente os adultos poderiam fazer uso da droga, eu seria o responsável pelo controle e distribuição, e a segurança do avião seria mantida por guerreiros de confiança de grande chefe. Com raras exceções, e estas entre as mulheres, todos os índios adultos começaram a se drogar.
Com o passar dos dias começaram os descuidos nos treinamentos dos guerreiros, com a caça, com o cultivo, e por conseqüência a comida escasseou.
Cada vez mais o conselho de sábios se reunia para resolver problemas de brigas e desentendimentos entre membros da tribo, mas suas decisões já não eram mais justas.
Minhas preocupações começaram, eu conhecia os efeitos maléficos produzidos pela droga na sociedade de onde vim. Por outro lado, o poder adquirido por mim diante da tribo só era menor que o poder de grande chefe, quanto a espírito que fala, seus sonhos passaram a ser caduquices de velho, e sua importância se restringia 'a cura de doenças cuja eficiência passaram a ser discutidas.
O efeito causado pela introdução da droga na aldeia desvendou diferentes personalidades entre os índios. Como se despidos das mascaras da inocência selvagem, alguns ficavam alegres e sorriam o tempo todo de alguma coisa engraçada criada por cérebros dopados, outros viviam sonolentos e preguiçosos, mas os piores estavam entre os que se tornavam violentos.
A tribo nunca mais seria a mesma depois da descoberta do fruto proibido, e o respeito pelas leis e crenças, agora estavam sendo trocados por ideais de rebeldia.
Numa tarde, um guerreiro forte e saudável sentiu-se mal após fazer uso de sua dose diária, espírito que fala foi chamado para socorrê-lo, mas nada pode fazer diante daquela estranha doença que fazia com que o índio espumasse pela boca como um animal raivoso, dali a pouco estava morto. Revoltados, os membros da tribo culparam o velho curandeiro, um guerreiro como aquele só morria em combate. Fui ver o morto e percebi logo a causa da morte, overdose! Perguntei-me como isto foi possível. As doses fornecidas eram suficientes apenas para que os índios tivessem suas viagens sem ultrapassarem o ponto que eu consideraria crítico. Alguma coisa estava errada, e a resposta estava no avião. Faltavam alguns pacotes, e eu tinha certeza de que aquele índio não fizera o trabalho sozinho, corri para a tenda de grande chefe para contar o ocorrido, ele tinha inalado sua dose, estava alegre e cordial, mas não deu importância ao que falei.
A tribo estava contaminada, com exceção das crianças e de algumas mulheres, os onças pintadas não passavam de um povo drogado. Decidi que no dia seguinte suspenderia a dose diária, convocaria uma reunião onde ameaçaria cancelar o fornecimento, caso os culpados pelo furto não se apresentassem, na verdade era apenas um ato de desespero, eu sabia que a situação tinha fugido do controle.
A reunião não chegou a acontecer, quando a noite se aproximava a aldeia foi atacada por uma tribo nômade.

O destino dos onças pintadas

Confusão, gritos, e uma correria sem rumo, também comecei a correr, corria procurando por olhos de coruja, encontrei-o lutando como um bravo, como todos os meninos da aldeia ele lutava por um ideal sem glória. Peguei meu amigo por um dos braços e tentei tirá-lo do meio da batalha, dizendo que tudo aquilo era inútil, os onças pintadas seriam aniquilados, e a única possibilidade de salvação era fugindo em direção a mata fechada. Ele me olhou e disse que um onça pintada jamais fugia de uma batalha, não tive alternativa, eu era maior e mais forte que ele, e não tinha os mesmos escrúpulos diante de um ideal, abracei-o por traz e o carreguei em direção a floresta.
Depois de pontapés, mordidas e beliscões, consegui levar meu amigo para o mais longe possível da aldeia, e vencido pelo cansaço e pela dor na perna, parei debaixo de um pé de jatobá e depositei meu fardo no chão. Por mais que estivéssemos longe da aldeia, era possível ouvir os gritos desesperados dos poucos onças pintadas que ainda lutavam por suas vidas, olhos de coruja estava em silêncio, tentava entender o que se passava através dos ouvidos.
O manto da noite cobriu a floresta, e o silêncio quebrado por aves e animais noturnos rodeavam ameaçadoramente um homem e um menino perdidos em seus pensamentos. Eu pensava numa maneira de voltar a Bolívia levando o filho que a casualidade me dera. O que ele pensava só Deus sabia. Lutei para ficar acordado pois tinha medo do que se passava na cabeça de meu amigo, mas o dia foi longo, e o cansaço, em qualquer minuto entre as horas da madrugada me abateu e adormeci. Dormi o suficiente para ter pesadelos com índios nômades que levavam meu filho! Acordei possuído por terríveis pressentimentos e procurei por olhos de coruja sem encontrá-lo. Corri sem direção gritando por seu nome, até avistá-lo sentado em um tronco caído, olhando em direção ao infinito. Percebendo minha presença ele se virou e me cumprimentou para depois dizer:_"Yuan, você pode me ajudar a mandar meu povo para a grande aldeia?" Respondi que sim, sabia o que ele queria dizer com aquele pedido, mas pedi a ele para esperar um pouco mais, poderíamos nos defrontar com os inimigos se fossemos naquele momento, ele concordou.
Durante o dia ele não comeu, mas conversou bastante, perguntou-me como era o lugar de onde eu vim e como era viver neste lugar. Me animei, inventei um paraíso onde os homens adquiriram muitos conhecimentos que fizeram melhores as suas vidas, sem sofrimentos e sem dores, e devido às leis que eram respeitadas, eles viviam em paz. Olhos de coruja parecia me ouvir sonhando, seus olhos se fechavam para buscar na imaginação alguma coisa que o fizesse ter idéia deste lugar mágico.
O dia terminou e eu me sentia cansado, olhos de coruja parecia ter adquirido o dom de viver acordado, não dormia e no entanto parecia não sentir a falta de sono. Tive medo de retornar a aldeia, mas o menino acreditava não haver mais perigo, pois havia como que uma espécie de acordo entre os nativos com relação à guerra, onde os vencedores se retiravam de cena, para que os derrotados enterrassem ou dessem a seus mortos o destino segundo as tradições de suas tribos.
Foi um verdadeiro massacre, adultos e crianças mortas se misturavam em um mar de sangue, alguns morreram lutando, mas a maioria aceitou a morte sem vontade de lutar pela vida. Lágrimas rolaram pelo meu rosto, mas olhos de coruja parecia um ser sem alma, com frieza caminhou por entre seu povo, agora reduzido a um monte de cadáveres, até encontrar o corpo de grande chefe. Respeitei o silêncio de meu amigo que foi longo, e quando ele se dirigiu para um amontoado de galhos, onde antes era a tenda de espírito que fala, eu o vi procurar por algo que deveria estar entre os pertences do velho feiticeiro, que agora poderia estar sonhando o seu ultimo sonho.
Começamos a juntar os corpos, eram tantos que tivemos que fazer vários amontoados, percebi a falta das mulheres jovens, mas olhos de coruja me explicou que a tribo vencedora levou-as como troféu de guerra.
Passamos a noite toda queimando os cadáveres, usei o combustível que restava no avião para a tarefa de mandar os onças pintadas pra junto de seus antepassados.
Pela manhã nos retiramos, os vencedores deveriam tomar posse do lugar se esta fosse suas vontades. Caminhamos pela floresta sem destino, eu sentia o cansaço como um enorme e pesado fardo a ser carregado, mas não sentia sono, na mente, à vontade de sobreviver e chegar até a Bolívia com olhos de coruja, mas como...? Eu não sabia. O vento contrário trazia sons para nossos ouvidos, sons da floresta, mas também trouxe o som de motor de avião, paramos, escutamos e tivemos a certeza, um avião sobrevoava a área, corremos de volta para aldeia, pensei em Gonzáles, finalmente ele voltou.
Ao chegar na clareira onde antes existia a aldeia o avião ainda não havia pousado, fazia vôos de reconhecimento. Era difícil de acreditar, finalmente eu ia sair daquele lugar, recomeçar a minha vida onde ela havia parado a não sei quanto tempo atrás. O avião pousou e seus dois tripulantes desceram, Gonzáles não estava entre eles, mas reconheci meu contratador, cumprimentei-o temeroso, mas ele não parecia estar nervoso como quando tentei falar com ele pelo rádio.
Meu contratador falou que Gonzáles conseguiu chegar até a Bolívia e o procurou, estava com malária, e o tratamento tardio não conseguiu salvar a sua vida, mas viveu o suficiente para falar do acidente e indicar num mapa da região o lugar provável onde o avião pousara, eles nos procuraram por vários dias, estavam para desistir quando hoje avistaram a fumaça da fogueira que fizemos para queimar os corpos dos índios mortos.
O verdadeiro motivo que levara nosso contratador a vir, não foi para me resgatar como percebi depois. Além de recuperar a carga, ele também veio para fazer um reconhecimento do lugar, segundo Gonzáles lhe havia dito, a clareira ficava dentro da zona morta, e era um ótimo campo de pouso. A idéia do traficante era usar o local como base de refinamento de cocaína, ele tinha contatos de fornecimento da droga na Europa, e tencionava usar o lugar como inicio de uma rota com escala no Suriname rumo a Holanda.
Para mim o que ele pretendia fazer não tinha importância, eu queria mesmo era sair daquele lugar, levar olhos de coruja e abandonar aquele tipo de trabalho, quem sabe conseguiria adotar o menino como filho.
Ajudamos a colocar o que sobrou da droga no avião do contratador e começamos os preparativos para partir, quando olhos de coruja me disse:_"Yuan, eu não vou!". Não entendi o que ele quis dizer com aquilo, e me aproximei para perguntar:
_ Como? O que é que você está falando? Aqui não resta mais nada, seu povo já não existe mais, como você viveria?
_ Vou me juntar a meu povo! Disse isto e mostrou-me uma espécie de vasilhame feito de bambu, que agora estava vazio, perguntei o que significava aquilo e ele respondeu que bebera do mesmo veneno que tirou a vida de espírito que fala.
_ Peço-lhe como favor que meu corpo seja queimado, para que meu espírito suba para a grande aldeia onde encontrarei com meu povo, e onde a profecia do sonho de espírito que fala se cumprirá, os onças pintadas viverão em paz e felizes como uma grande nação.
Eu conhecia o veneno, era tão mortal quanto o veneno de uma cascavel, sua ação demorava o tempo necessário para se misturar na corrente sanguínea e atingir o coração provocando um ataque fulminante. Abracei meu amigo e senti meus sonhos se desmoronarem, sentei-me no chão com ele em meus braços e acariciando seus cabelos comecei a chorar. Olhos de coruja não gostou da minha atitude, disse que um guerreiro não devia chorar, pediu-me que novamente falasse do lugar de onde eu vim e onde voltaria a viver. Contei-lhe então sobre a vida no povoado, falei das montanhas, das florestas e rios do lugar, e, num instante em que o sonho se materializa numa terrível realidade, percebi que falava sozinho, meu amigo, meu filho estava morto. Fechei aqueles olhos grandes que jamais se abririam e cumpri com a promessa feita a ele em seu último desejo, a seguir entrei no avião e deixamos o lugar, sem que eu tivesse a coragem de olhar para trás.

Final

Depois dos acontecimentos se transformarem num passado distante, ainda olho o céu nas noites estreladas e converso com meu filho. Numa destas noites ele me disse:
_Yuan, viver aqui na "grande aldeia" é tão bom quanto sonhar um sonho feliz.

FIM

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